quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Parabéns ~

Vinte e oito de agosto de dois mil e um, nasce um cachorro. Aparentemente um cachorro qualquer, que terá um destino qualquer numa casa qualquer com uma família qualquer. Mas com alguns dias de vida estava sendo vendido na maior feira de filhotes do Rio Grande do Sul, onde eu o conheci. Eu era pequena, estava em dúvida entre um poodle preto, branco, ou champagne. Peguei o champagne no colo por curiosidade e este dormiu assim que o coloquei em meus braços. Chamei minha mãe e disse "Mãe, quero esse."
Tão pequenino, tão adorável, tão babão, tão sem dente, tão bafudo, tão, tão... estava demasiadamente feliz, finalmente tinha um animalzinho em casa, um ser vivo pra chamar de meu.
Desde pequeno sempre fez muitas coisas erradas: estragou 9 pares de chinelos, roía os rodapés de tudo, roía as paredes e comia tudo o que via pela frente. Nunca me esqueço do dia que cheguei em casa com uma boneca nova e ele arrancou um braço dela... chorei tanto naquela noite que lembro que foi a primeira vez que tive um ódio mortal por aquele animal. Desde então, só via coisas ruins nele. Só gostava dele quando ficava quietinho do meu lado sem chorar e sem se mexer (ou seja, quase nunca). Ah, gostei dele também quando uma abelha picou o seu nariz e por isso ele perdeu todos os movimentos e então meus pais levaram-no para um hospital veterinário. Eu nem acreditava em Deus ainda, mas peguei uma foto sua e fiquei orando (e chorando) pra que Deus o curasse. Depois de algumas horas eles voltaram pra casa com o cachorro totalmente recuperado, fiquei feliz, mesmo. 
Entretanto, mais eram os momentos de raiva do que os momentos de amor a ele. Maior era meu ódio do que meu carinho. Talvez pelo fato de eu ser filha única, quando uma parte da atenção dos meus pais se dirigiu para outra coisa, o ódio existisse por inveja que sentia dele em certos momentos.
Irritavam-me os gritos dele toda vez que minha mãe chegava. Irritava-me o jeito que ele latia toda vez que algum vizinho apertava a campainha. Irritava-me quando ele pulava em cima de mim enquanto eu almoçava no sofá, me fazendo sujar o estofado. Irritava-me quando ele fugia da coleira e saía correndo, me fazendo correr atrás dele e gritando seu nome. Irritava-me quando ele chorava pra entrar no quarto, e quando eu saía da minha cama quentinha pra abrir a porta pra ele entrar, depois de alguns minutos ele queria sair do quarto de novo. Irritava-me quando ele se assanhava com as visitas. Irritava-me quando andava com ele de carro e ele não parava de latir em nenhum instante, deixando todos estressados de tanto xingar o cachorro. Irritava-me como ele parecia ser tão inútil... não sabia sentar, deitar, rolar, e nem levantar a patinha ao meu comando. Todos sabiam do meu ódio por aquele cachorro, todos sabiam da minha falta de amor desumana com o tal melhor amigo do Homem. 
Um dia fui dormir na casa de uma amiga, e quando voltei, minha mãe me disse que o Puffy (é, o nome do cachorro) estava andando de um jeito meio estranho... ele andava com a coluna meio curvada, muito bizarro. Eu disse para ela levá-lo ao hospital veterinário, mas ela disse que não precisava, que no outro dia ele já estaria melhor. Ele não chorava nem nada, só andava esquisito mesmo. Fiquei tranquila. No outro dia acordei com meus dois pais meio sérios e discutindo sobre o cachorro. O Puffy estava em sua caminha, parado de um jeito mais curvado ainda do que no dia anterior, e toda vez que alguém tentava pegar ele, ele gritava de dor. Eu fui fazer carinho nele e ele me mordeu forte. Saí chorando pro meu quarto e gritei "TIREM ESSE CACHORRO DAQUI." 
Com muito esforço meus pais conseguiram colocar ele no carro e levaram ele ao hospital veterinário. Depois de longas horas eles voltaram pra casa, sem o cachorro. Como você, também entrei em desespero e achei que ele havia morrido, mas não, meus pais disseram que ele havia ficado na clínica em observação. Os médicos disseram que o problema era na coluna, e muito delicado.
Após dois dias com a casa "vazia" sem aquela coisa correndo, pulando e fazendo barulho, o bichinho voltou. Estava bem calmo no colo da minha mãe, bem bonitinho. Achei que tudo voltaria ao normal, mas quando a mãe largou-o no chão, ele não mexia as duas patas traseiras, andava se arrastando. Fiquei sem reação, sentei-me no sofá ao lado da minha mãe e as duas começaram a chorar. O bichinho veio se arrastando até nós, tentou pular pro sofá e deu de cara nele... acho que ele não tinha entendido que havia perdido os movimentos das patas. Eu e minha mãe chorávamos e o bicho olhava-nos com uma cara de desespero, com um olhar de "me ajudem". Pegamos ele no colo e fizemos carinho nele por infinitos minutos, e nesse momento nasceu em mim um amor absurdo por aquela criatura tão adorável e necessitada. Sabia que teria que cuidar dele dali em diante, sabia que ele precisaria de mim, sabia que olharia pra ele com olhos de amor a partir daquele momento. 
Depois de alguns dias de tristeza pensando "Deus, por que o MEU cachorro paraplégico? Por que EU tenho que ter um cachorro aleijado?"eu percebi o quão negativa eu estava. O Puffy não estava triste e nem depressivo, não deixou de comer, não deixou de latir, não deixou de uivar toda vez que algum vizinho chegava... continuou sendo o mesmíssimo cachorro de antes, talvez mais feliz ainda porque passou a receber mais atenção minha. Aí uma vez ele foi se arrastando, buscou um brinquedinho, veio se arrastando até mim, e me deu o brinquedinho pra eu atirar pra ele ir buscar... meus olhos se encheram. Eu estava triste pensando na deficiência dele, e ele? Nem se importava. Enquanto eu reclamava por qualquer coisinha, chorava por não conseguir coisas insignificantes, olhava pro meu cachorro paraplégico e o via mais feliz que eu. Com certeza foi uma das maiores lições que a vida já me deu, e posso lembrá-la todos os dias quando acordo e vejo aquela criaturinha vindo em minha direção para me "recepcionar". Hoje o Puffy está fazendo 9 anos de idade e 1 ano sem movimento nas patas traseiras, não poderia passar essa data sem compartilhar tudo o que passei com ele. E ah, obrigada por ter lido até o fim.

Puffy, mãe.

7 comentários:

  1. Eu li, eu li. Só não fiquei espantado pq eu já sabia o que tinha acontecido com ele. Parabens a ele e a vc, candy e seus pais por não fazer como outras familias fariam, abandona-lo. Beijos, até a proxima.

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  2. PARABÉÉÉNS PUFFY *o*
    aw que amor sempre quis um cachorro :')

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  3. Sempre que posso leio seu blog mas dessa vez eu tinha que comentar, eu me vi nesse seu post, meu cachorro também é um poodle e também é champagne e ele também não tem os movimentos das patas de trás e eu tenho que confessar que eu realmente me irrito muito com ele as vezes porque ele da muitoo trabalho! uhsuhs mas eu agradeço a Deus por ter ele na minha vida é um anjo que Deus me mandou pra cuidar e eu tenho que sempre lembrar isso. Muito obrigada por me fazer lembrar.

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